Elevador


    Estranho essa coisa de elevador. Que poder tem essa estranha caixa com botões em ditar nossas atitudes e, por que não, os pensamentos?
    Imagine-se entrando no território reduzido de um elevador. Você aperta o T (Térreo), e o chão começa a descer. No entanto, ele para antes do esperado. Número 5. Droga! Seus planos foram frustrados. Surge uma tensão, sabe-se lá de onde. Você está prestes a se sentir violado. Um estranho entra e, quando a porta se fecha, a mágica acontece.
    Que poder tem essa caixa presa em correntes de ditar suas vontades? Nasce, então, uma estranha necessidade em dizer alguma coisa, mas, ao mesmo tempo, uma vontade de se fazer invisível e não precisar dizer nada. O que acontece nesse pequeno espaço em que, subitamente, você se sente obrigado a travar um diálogo? Uma espécie de coliseu particular, em que você precisa duelar com as palavras certas e com a vontade de não dizer nada e, nessa mistura confusa de vontades e pensamentos, você acaba dizendo:”Está calor hoje”.
    Oh, sim! O velho clichê. A coisa do clima, “acho que vai chover”, “tá ventando muito hoje”, “Não, eu vi na TV que vai fazer um milhão de graus celsius”. Talvez seja uma brincadeira ardilosa desse tal Elevador, esteja ele querendo aproximar pessoas ou colocá-las numa saia justa.
    O fato é que alguns não se sujeitam ao cômodo e seguro clichê. Alguns preferem se arriscar em um campo menos usual, fala-se, então, de política, economia… “O dólar subiu”, “Ações e hipotecas, vejam só…”.
    Mas não são todos que querem iniciar um diálogo. Alguns preferem meter a mão no bolso e tirar uma caixa ainda menor (também cheia de botões): o celular. Fingem uma conversa com a mãe, com a tia doente ou com o primo de terceiro grau que vem à cidade, deliram uma conversa com ninguém do outro lado da linha só pra não se submeterem à magia do elevador. Mas, no fim das contas, você ainda é subordinado dessa coisinha quadrada com números.
    Que poder seria esse? Talvez, pensando um pouco mais, percebamos que o elevador não tem poder nenhum. Somos nós os donos dessa habilidade, o dom natural de falar (afinal, que outra espécie tem as cordas vocais aptas para tal?). O Elevador só nos ajuda a lembrarmos desse talento ignorado.

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Base feita por Adália Sá | Editado por Luara Cardoso | Não retire os créditos