O livro que irei resenhar, hoje, não é uma ficção científica, nem um universo fantástico com dragões e princesas clamando por seu bravo cavaleiro de armadura reluzente. Nada disso está escrito nas páginas de "Guerreiros da Esperança", cortesia da nossa parceira Editora Arqueiro. O que vemos nessa obra vai muito mais além... Trata-se de uma ficção que poderia muito bem ter acontecido bem longe daqui. Para ser mais exato, na Indonésia.
"Onze crianças e o sonho de que a educação mude suas vidas"
Título: Guerreiros da Esperança
Autor: Andrea Hirata
Editora: Arqueiro
280 páginas
Num lugar onde a maior parte da população é resumida em mineiros e pescadores, poderia a educação proporcionada por uma simples escola de aldeia mudar a vida de onze garotos?
Andrea Hirata trouxe uma deliciosa proposta de como o ensino, quando ensinado com paixão, pode transformar a vida das pessoas. A história tem seu início em Belitung, uma ilha da Indonésia, uma região com muitos recursos naturais e uma população cuja minoria desfrutava dessa riqueza.
Narrado por Ikal, um aluno da pequena escola de aldeia, o menino conta as peraltices e descobertas, conta como se apaixonou pela escrita e, também, pela jovem A Ling. Ao lado de muitos amigos, entre eles Harum, um menino com síndrome de Down e com um coração do tamanho do mundo, Ikal desbrava seu familiar universo sob uma ótica diferente, enxergando seu país com uma nova lente: o "conhecimento", presentes de Bu Mus (a professora generosa) e Pak Harfan (o diretor apaixonante).
Guerreiros da Esperança nos revela o óbvio: somos diferentes, mas, juntos, somos um igual e perfeito ser, todos temos nossos pontos fortes e, se nos mantemos em hamornia, as qualidades de uns podem sobrepor o defeito de outras, como se a amizade pudesse compensar o defeito de cada um e, da mesma forma, acentuar o que há de positivo. Na pequena escola Muhammadiyah, cada um tinha o seu talento e, como professores eficientes que eram, Bu Mus e Pak Harfan tentavam desenvolver o que há de melhor em suas crianças. Ikal narra, de forma simples e igualmente cativante, como é viver na pobreza de um país que sofre com a corrupção e o ostracismo das crianças pobres. Os garotos descobriram, juntos, o valor da amizade, o preço de suas ações e, principalmente, a extraordinária mudança que a educação pode fazer em suas vidas.
Envolvente, é a principal qualidade da obra. Andrea Hirata consegue nos fazer rir, nos comover, consegue transformar cenários simples em um verdadeiro espetáculo. Não apenas isso, o livro traz muitas informações sobre como a vida na Indonésia pode ser difícil, viver em uma terra fértil que, no entanto, alimenta apenas os que possuem mais dinheiro.
"Nós, nativos de Belitung, éramos como um bando de ratos famintos num celeiro cheio de arroz"
página 25
São muitos os personagens que nos marcam. Um dos meus preferidos é Lintang, o menino prodígio com um Q.I. extraordinário e um amor incomum pelo aprendizado. Sua história de vida nos comove do início ao fim, um garoto pobre cujos pais venderam a aliança de casamento para dar condições ao filho de estudar. Ele foi um verdadeiro professor nessa história, pois é capaz de ensinar aos leitores que aprender sempre nos dá algum retorno, e sempre positivo.
Flo é uma aluna de família mais bem endinheirada que, incapaz de se adequar aos padrões de sua escola, decide ir para a pequena escola na aldeia. Um dos pontos negativos (acho que esse foi o único) foi a superficialidade com que o autor lidou com essa personagem. Flo poderia ter sido bem mais explorada, mesmo porque tem uma personalidade forte e com potencial para se destacar ao longo do enredo. Mesmo que isso não tenha acontecido, ela é uma de minhas preferidas.
Bu Mus, a professora, ganha cada vez mais espaço na história, especialmente após a metade do livro, quando ela se vê na posição de salvar sua escola da demolição. Não foi difícil ficar encantado com essa pergonagem, cheia de vida e altruísmo.
"Embora fosse miseravelmente pobre, Bu Mus jamais se deixara deslumbrar pelo dinheiro"
Página 218
Ler Guerreiros da Esperança me fez pensar em como temos sorte, e em como temos muito o que valorizar em nossa cultura. Penso que a leitura deve, principalmente, nos despertar o interesse por mais leitura. E foi o que Andrea Hirata fez em sua obra. Eu fiquei tão intrigado com a paixão de Ikal pela sabedoria, e tão comovido com o eterno sorriso de Harum! Uma leitura mais do que recomendada. Pra quem gosta de se emocionar com uma boa leitura, então, vale muito a pena!
Guerreiros da Esperança é o primeiro livro da série Laskar Pelangi. Não vejo a hora de dar continuidade a uma saga diferente, onde o objeto dos heróis é uma educação de qualidade.
Boa leitura, fiquem na Paz!