[Resenha] Belleville, de Felipe Colbert



“Ilustre desconhecido,


Hoje é o seu dia de sorte. Você acaba de ser premiado com um passeio de montanha-russa!”
Capítulo 1, página 5

     A primeira vez em que li Felipe Colbert foi quando conheci o jonalista Daniel no livro Ponto Cego, um thriller que me fez colocar o autor na lista de favoritos. Até aí tudo bem. O "problema" foi quando comecei a ler Belleville. Eu não sabia o que era ser versátil até então. Sim, amigos, temos um James Patterson brasileiro, capaz de escrever um livro de suspense, ou um romance tocante que, nesse caso em específico, é capaz de viajar através dos anos para resgatar um amor que parecia impossível!

      Belleville conta a história de dois jovens vivendo em tempos diferentes. Temos Lucius, o calouro do curso de Matemática na faculdade de Campos do Jordão, que vive em 2014 em meio a sua desorganização e introspecção, além de um pai com o coração frágil e igualmente bondoso. Enquanto isso, cinquenta anos antes, temos a jovem Anabelle, órfã que passa seus dias enclausurada em sua casa, vivendo apenas com a companhia de Tião, seu gato preto.


      As coisas estavam difíceis para ambos, cada um em seu tempo (literalmente). Em 1964 Anabelle não tinha dinheiro para se manter, mas sua teimosia era o combustível necessário para manter de pé a sua casa, herança deixada pelo seu pai, fotógrafo conhecido enquanto na região enquanto vivo. Já no futuro - ou melhor, no nosso presente - Lucius vivia sob a sombra do medo de que, a qualquer momento, seu pai poderia sofrer um infarto, mas ele não deveria se preocupar, afinal, estava em Campos do Jordão para estudar, ainda que seu pai não estivesse com ele pelos próximos anos de faculdade. Detalhe importante: Lucius alugara uma casa antiga. Coincidência ou destino, era a casa onde Anabelle viveu sua vida inteira.
      E é nesse momento que os romances, mesmo aqueles que superam o espaço-tempo, nascem. Um dia, enquanto Lucius descobria o esqueleto de um projeto de montanha-russa no jardim da propriedade, encontrou a terra revolvida e, ao desenterrar uma caixinha com um bilhete dentro, descobriu a antiga moradora daquela casa. Além da foto, encontrada entre os livros empoeirados da antiga residência, Lucius descobriu em Anabelle uma menina que lutou para que o sonho do pai pudesse se tornar realidade: o de ver Belleville, a montanha-russa, um dia finalizada. Mas, infelizmente, isso nunca aconteceu.
      Quando, enfim, Lucius conhece um pouco mais da história de Anabelle, ele se compadece de seu sonhos frustrado, e decide enterrar a caixinha com uma carta escrita por ele mesmo, convencendo o próximo morador a concluir o projeto Belleville. E assim como a caixinha, enterrou aquele assunto.
      O que ele não esperava era que, um dia, movido por curiosidade, desenterrasse a caixinha e descobrisse que sua carta fora respondida! A partir daí, Lucius descobriria uma maneira de falar com a jovem Anabelle, que mesmo tão distante no tempo, conseguiu roubar o coração do rapaz. Mas se engana quem pensa que essa correspondência duraria para sempre. Um tio há muito desaparecido, quando bate na porta de Anabelle, coloca tudo em risco: as cartas, o amigo do futuro... Belleville! E cabe ao jovem Lucius garantir que o sonho do pai de Anabelle - e o dela! - seja concretizado.


      Escrito em terceira pessoa, o livro nos faz viajar em dois tempos diferentes: 2014 e 1864. A temporalidade foi muito bem feita, expondo as diferenças do tempo, e tomando o cuidado de não deixar nenhuma ponta solta. Não apenas isso, em alguns momentos as cartas que Anabelle e Lucius escrevem um para o outro nos são apresentadas e, assim, podemos ver um pouco mais da personalidade de cada um, além de suas respectivas vidas, cada uma em seu tempo.
      Uma das coisas que me incomodou - só um pouco, na verdade - foi a elaboração de diálogos. Por ser um livro ambientado no Brasil, eu esperava um "dedo de prosa" mais abrasileirado. Apesar disso, não impede em nada a imersão da história, mesmo porque as personagens têm personalidades muito bem construídas, e é muito fácil sentir simpatia pela causa de Lucius, e quase impossível não amar Anabelle! O problema mesmo é que, em alguns momentos, fica fácil esquecer que estamos em terras tupiniquins.
      E não se engane se pensou que a história é apenas mais um romance. Há muito mais em jogo. Além de, por vezes, o livro retratar a violência contra a mulher, podemos também encontrar questões como bullying, relacionamento familiar, amizades improváveis... Tudo isso permeia essa incrível história com um dedo verde e amarelo. Felipe Colbert não poderia ter sido mais feliz ao escrever Belleville!
 

      

[Resenha] Reconstruindo Amelia, de Kimberly McCreight


      Há muito tempo venho procurando um livro que fugisse um pouco do meu estilo e que, mesmo assim, pudesse me surpreender tanto quanto os meus livros favoritos fizeram. Quando comecei a ler Reconstruindo Amelia, da editora Arqueiro, eu percebi que a busca havia chegado ao fim. A obra Kimberly McCreight me conquistou de primeira. Fechar o livro e me despedir das personagens foi uma das coisas mais difíceis nessa leitura.

      Kate Baron, uma advogada associada da respeitável Slone & Thayer, estava em uma difícil reunião,  quando recebeu a notícia de que sua filha, a adorável e comportada Amelia, havia sido suspensa das aulas. A mãe havia sido informada que deveria estar em Grace Hall, o colégio onde a filha estudava, em 20 minutos, mas o trabalho prendeu-a por mais de uma hora. Ao chegar - já bastante atrasada, encontrou um movimento incomum na porta do colégio. Policiais, transeuntes curiosos, paramédicos. Nesse mesmo dia, haviam contado a ela: Amelia saltara do telhado para a morte, um suicídio que seria o fardo de Kate para sempre.
      Tudo parecia difícil demais. Sem o apoio dos pais, auxiliada apenas por Jeremy, o amigo do trabalho, e Seth, o ex-namorado e atualmente gay. Até o dia em que ela recebe uma mensagem em seu celular: 
Amélia não pulou
      A notícia foi um choque, mas depois uma constatação óbvia. Kate podia não ser a melhor mãe do mundo, mas conhecia a filha o suficiente para saber que ela nunca iria se matar. diante dessa verdade brilhando na tela do seu celular, ela decide investigar, mesmo que por conta própria. Fraternidades secretas, amigos virtuais, trotes, amores e descobertas amorosas, tudo isso permeia o drama na vida da mãe solteira. Ela acaba descobrindo, não apenas a verdade, como mistérios de seu passado que deveriam ter morrido anos atrás.


      Reconstruindo Amelia já tem um título revelador: trata-se de Kate refazer todo o conceito que ela tinha da própria filha. É claro que essa reconstrução é muito mais para a mãe da Amelia do que para nós, leitores, mesmo porque já somos apresentados a uma Amelia 'diferente'. A narrativa alterna entre capítulos em terceira pessoa - em que acompanhamos a advogada desesperada em busca de respostas - e capítulos em primeira pessoa, narrados por Amelia Baron quando ainda estava viva e lidava com certas questões: as Magpies - a fraternidade secreta em que fora convidada a participar; um romance improvável; amigos com tantos segredos quanto ela própria.
      McCreight produziu uma trama incrível, sua narrativa fácil e envolvente, é impossível não simpatizar com a causa de Kate, ou entender os motivos de Amelia. O desenrolar é bem surpreendente, o tipo de leitura que não nos cansa justamente porque, a cada virada de página, descobrimos algo novo, porém sem uma resposta clara. É movido pela curiosidade que continuamos a leitura, e é com pesar que terminamos, pois saber que Amelia está morta e, mesmo assim, entrarmos em sua mente e conhecer seus reais motivos por trás de tudo o que havia feito, é doloroso, e genial!
      O único problema foi chegar ao final e perceber que a autora não conseguiu amarrar muito bem algumas questões, ficaram pontas soltas que, por isso, não nos deixou aquele ar de 'leitor satisfeito'. Mas, mesmo assim, a leitura surpreende e encanta, provoca empatia e nos faz querer fazer justiça com as próprias mãos, pra você ver o tamanho que é a imersão dessa história. Mas, mais do que isso, queremos dizer para Kate que ela fez o que pode, e que, sim, era uma boa mãe.
      Eu sempre digo que uma boa história não precisa ter um enredo extraordinário, contanto que os personagens sejam incríveis. E aqui, em Reconstruindo Amélia, queremos conhecer todos eles, desvendar a vida de cada personagem e descobrir todos os seus segredos.

CURIOSIDADE: os direitos do livro já foram comprados a adaptação para filma já está planejada. Kate Baron será interpretada por Nicole Kidman. O filme ainda não tem data de estreia ou qualquer previsão de lançamento. O jeito é esperar!


[Inspire-se] O mundo não tá quebrado. Nós estamos.



      O problema não é agredir o nosso planeta, o problema não são as guerras, o problema não são as outras pessoas. O problema somos nós. Todos nós, isso e a nossa falta de fé. Mas, talvez, se olharmos com mais atenção - sim, para as pessoas que amamos, por exemplo - talvez isso nos faça pensar um pouco. Hoje tudo o que toca o coração é considerado drama adolescente. Mas, pensando bem, é quando crianças que nos enchemos de esperanças, de expectativas e vemos algo de bom por trás de tanta porcaria no mundo. Quando crescemos, tudo fica preto e branco. Talvez a gente precise sonhar como criança, fazer discursos adolescentes. Talvez precisemos de fé. 



Não, talvez não. Definitivamente, precisamos de fé.

[Resenhas] O Retrato, de Charlie Lovett

     Pense em uma pessoa que não sabe se relacionar bem com as pessoas, e por isso encontra uma válvula de escape na página dos livros. Esse é Peter. Recluso, nada sociável, ele não era de interagir com as pessoas até que conhece Amanda, a única pessoa que o fez mudar e interagir. Mas, quando sua esposa morre, Peter fica sem chão; volta a ser a pessoa que era antes de conhecer sua espora, e não consegue imaginar um futuro sem ela. Mas depois de alguns meses e de muita insistência para que ele retomasse sua vida, Peter vai para a Inglaterra e para uma nova atividade: trabalhar com livros raros.  


     Enquanto trabalha com aqueles que são, desde sempre, o apoio que Peter podia ter, ele encontra o retrato de uma mulher incrivelmente parecida com sua amada e falecida esposa. Só que a imagem tinha sido pintada há muitos, muitos anos, num passado longínquo. Obviamente curioso com tamanha semelhança, ele começa a pesquisar tudo o que pode sobre o retrato. Só que, além de tentar descobrir mais sobre aquela imagem, ele também esbarra em outra descoberta fascinante, que nada mais é que uma obra perdida de Shakespeare. E assim, sozinho, Peter precisa descobrir a história por traz do retrato e encontrar essa raridade em forma de clássico da literatura, para fazer com que seu trabalho seja reconhecido - e eternizado.

     Em O Retrato, temos uma história imersa no universo da literatura. Se você ama esse mundo das artes e das letras, vai se encantar. A história é dividida em épocas diferentes, então temos diversos personagens que acabam se entrelaçando de alguma maneira, mesmo que suas existências tenham sido separadas por séculos. O livro se passa em 1995, mas os acontecimentos de séculos antes desvendam muitas coisas no presente, e é quando isso começa a acontecer que o leitor fica irremediavelmente preso à história. Enquanto o leitor sabe o que aconteceu e o que levou certas situações a acontecerem, a tendência é querermos arrastar Peter para os lugares onde sabemos que está o que ele procura. Porque, enquanto temos todos os lados da história, Peter só tem o dele.           

     O livro, dividido em três épocas - entre os séculos XVI e XX, na década de 80 e na década de 90 - é um livro recheado de suspense e de mistério, e ao mesmo tempo nos conta uma história de amor encantadora. Com tudo para dar errado em um enredo tão diverso, foi bom ver que O Retrato teve um desfecho incrível - e um enredo viciante.

[Inspire-se] Não seja indiferente



      Não é novidade. Todo mundo já presenciou - ou viveu! - uma situação parecida: alguém se depara com uma situação que necessita de uma intervenção, alguém precisa fazer alguma coisa... Mas ninguém faz. E quando fazer o certo parece ser difícil, porque precisamos sair da nossa zona de conforto, aí sim o certo parece impossível. Mas quando a gente abre mão de nós, de nosso conforto, em prol de algo que valha a pena, aí tudo faz sentido.


      Ser bom não é fácil. Ser bom é difícil. Porque, às vezes, é preciso quebrar alguns ovos. Ou janelas. 
      Mas, quer saber? Vale a pena. 

[Resenha] Boneca de Ossos, de Holly Black - Especial de Sexta-Feita 13!

 
     Quantas vezes você já pensou em ser criança outra vez (ou continuar sendo)? Parece que, a medida que crescemos, acabamos nos esquecendo do que movia nosso imaginário infantil. Mas com Boneca de Ossos, de Holly Black, eu consegui fazer esse regresso feliz, quando o monstro que vivia debaixo da minha cama era o maior dos meus problemas. Quando deixei minha criança interior sair para brincar com a boneca de ossos, o resultado não poderia ter sido melhor. 

       Com Zach, Poppy e Alice, encontramos um caminho para as fantasias que morreram (ou dormiram por um bom tempo) quando crescemos. Acontece que essas três crianças são parecidas com muitos de nós, quando nos reuníamos nas casas de nossos amigos e, munidos de bonecos de luta e vários outros brinquedos, criávamos um universo onde éramos nós os heróis, onde sabíamos em quem podíamos confiar, onde eramos os tecelões de nosso destino. Zach tinha o Capitão William, um pirata que liderava o Pérola de Netuno. Alice manuseava Lady Jaye, e Poppy sempre estava no controle das histórias, e adorava o ponto dramático em ser uma vilã. E, embora fossem verdadeiros amigos, eles sabiam que estavam crescendo. Uma hora, todas as fantasias seriam guardadas.

      Zach tinha o esporte na escola e tinha tudo pare ser o popular pelos próximos anos, por isso tinha vergonha de brincar de faz-de-conta com as duas amigas, ou pelo menos não queria que ninguém soubesse. Alice estava começando a compreender o que era gostar de um garoto e como agir para chamar sua atenção. Enquanto isso, tudo o que Poppy gostaria era de se ver criança para sempre e, com ela, seus amigos. Apesar disso, quando se reuniam, eram apenas capitão William Lady Jaye e a Grande Rainha, protagonizada por uma boneca de ossos que sempre ficou na cristaleira, onde a mãe de Poppy proibia qualquer um de pegá-la. Você já pode imaginar o estigma criado em cima da boneca: intocável, feita de ossos, com um olhar semicerrado como se encarasse a tudo e a todos. 


      E, como toda boa história, sempre há questões familiares, como Zach, cujo pai ausente acaba estragando a felicidade do filho ao jogar fora o capitão William, pensando que isso poderia fazer o garoto ser mais homem. Alice, que vivia com a avó, passava seus dias com medo de desagradá-la e receber um castigo que a poria longe dos amigos por um bom tempo. Poppy, com seus irmãos mais velhos sendo, bem, irmãos mais velhos, numa relação de atrito e amizade. Tudo isso permeia a trama, até que... O sobrenatural acontece!

      Poppy decide conversar com os amigos e explicar, que em uma noite, recebeu ordens da Grande Rainha, ou melhor, da Boneca de Ossos, que deu de querer aparecer para ela em seus sonhos, trazendo uma mensagem: enterrar a boneca onde estava seu corpo. Ao que parece, a boneca não era feita de ossos de animais, e sim de ossos de uma garotinha que morreu há muitos anos. Carregados por uma suposta aparição do além, os três amigos acabam caindo de cabeça em uma grande aventura, que promete transformá-los para sempre, talvez para melhor. 


      Quando comecei a ler Boneca de Ossos, me peguei divido. A história, escrita em terceira pessoa, tem uma voz narrativa muito poética e melancólica, e isso aguçou demais o meu lado de leitor apaixonado de 23 anos. Por outro lado, não tinha como sentir aquele frio na barriga em alguns momentos muito bem encaixados, coisa que teria mais efeito em uma criança. O timming era perfeito, a colocação das cenas que deveriam causar um arrepio foram inseridos quando o leitor parece "baixar a guarda", quando ele esquece por um momento que é adulto e decide se vestir de criança para embarcar na aventura. Holly Black criou uma bela história que, mais do que tentar nos assustar, ela tenta nos lembrar do que esquecemos quando crescemos, que são as fantasias, a crença fácil em coisas que são absurdas para gente mais velha, uma tentativa de resgatar a infância em pouquíssimas 220 páginas. 
      A diagramação está incrível, e as ilustrações captam muito bem a essência da história, além da capa, com as cores certas pra trazer ao leitor a ideia de uma história infantil com teor de suspense. A leitura vale muito a pena, tornou-se um dos meus preferidos desse ano em disparada. Muita coisa não foi dita aqui, mas por ser uma história de poucas páginas... Bem, acho melhor você descobrir por você mesmo o quanto essa aventura pode te encantar e, quem sabe, você não permita sua criança interior sair para brincar mais uma vez.       
       

Dias Melhores Virão, de Jennifer Weiner

      Seis anos depois de muitas tentativas e, finalmente, Ruth Saunders recebe o telefone que mudará sua vida para sempre. O que esse telefonema diz: que seu roteiro, para uma série de comédia foi aprovado, e irá ao ar. O roteiro é baseado em sua vida: uma mulher que vive com a avó e que está tentando descobrir seu próprio espaço no mundo. Porque essa é a história de vida de Ruth que, desde os três anos de idade, vive com sua avó. Seus pais morreram em um acidente de carro ao qual ela sobreviveu, mas não sem grandes sequelas. Sequelas essas que são físicas e emocionais. Só que as físicas ficam bem óbvias para qualquer um que a veja, já que as feridas que o acidente deixou acabaram transfigurando seu rosto e seu corpo. E, por isso, Ruth passou boa parte da sua infância internada ou passando pela mão de diversos médicos, tentando diminuir a dor que sentia e tendo que ser submetida à diversas cirurgias.         

      Sendo rejeitada por todos ao seu redor, menos por sua avó, Ruth acaba se apaixonando por uma de suas atividades com a avó: assistir à seriados na televisão. E, como uma válvula de escape, ela começa a escrever, sendo sempre incentivada por sua avó. E foi por isso que ela decidiu escrever seu roteiro: para mostrar para outras pessoas como ela, sem amigos ou que são excluídas da sociedade, que ser uma pessoa normal não é um absurdo. Que não é preciso ser extraordinário para se ter algum espaço. E, então, finalmente seu projeto é aprovado. Só que nem tudo era tão fácil assim.



      Mal tinha conseguido comemorar a aprovação de seu roteiro quando descobriu que teria que mudar diversas coisas para adequar sua série aos desejos da editora, mudando o sentido de sua série. E, além disso, ela é obrigada a lidar com todo tipo de gente; roteiristas, atrizes que não sabem lidar com suas vidas, executivos que querem ser sempre paparicados. E, para melhorar, ela ainda precisa lidar com o lado emocional de sua própria vida, porque ela não consegue se sentir bem sendo quem é. Seu recente namoro acaba, ela é recusada por um dos roteiristas e ainda tem que ver sua avó planejando um novo casamento. As coisas estavam boas, até que não estavam mais.              

fonte da imagem: http://samyaquino.blogspot.com.br/

      O livro me chamou atenção por ser uma grande lição  de moral. Sabe aqueles romances que sempre mostram uma garota de baixa autoestima que se acha super feia e desinteressante mas na verdade não é, e que se apaixona pelo cara popular, bonito e charmoso e, juntos, ela descobre que na verdade é incrível e ele descobre as coisas simples da vida? Pois é, chega uma hora que você cansa dessas histórias, né? E Dias Melhores Virão mostra que você pode ser feliz e se dar bem no mundo mesmo que a sua vida seja mesmo mais cruel que a dos outros. E, na verdade, o livro é uma grande crítica à industria cinematográfica. O livro mostra muito bem tudo que acontece nos bastidores desse mundo e que, na verdade, eles não criam o conteúdo que o público quer ver. Eles criam o conteúdo que eles, os grandes empresários desse mundo, querem vender para o público. Um livro muito bem escrito e que foi um bom ponto de vista diferente dos livros clichês (que eu amo, não me entendam mal) de hoje em dia.

[Inspire-se] É tão difícil andar junto?

      Vez ou outra aparece alguém que, como todos nós, sentiu ou viveu os mesmos sentimentos e momentos, mas teve um pouco mais de clareza para interpretar o que, exatamente estava sentido. Quando vi esse vídeo, foi o que eu vi: uma abordagem sobre quem somos todos os dias nas ruas, mas nunca paramos pra pensar a respeito. 
      O que há de errado com todos nós? Por que nos sentimos tão incomodados quando nossos passos entram em sincronia com um completo estranho? Pode ser uma reflexão besta a princípio, mas... E se isso for uma pequena fração de quem somos? E se essa fosse a expressão sutil da nossa incapacidade de se caminhar lado a lado? Seria individualismo ou medo? Talvez insegurança, ou arrogância. É tanta coisa pra pensar a respeito. Engraçado, porque ainda não pensamos a respeito. Então vejam o vídeo, e tente não se incomodar quando caminhar lado a lado de um completo estranho. A vida não é uma corrida. Ela é uma jornada. 



Fiquem na Paz!

[Resenha] Vinte Garotos no Verão, de Sarah Ockler



Algo que só quem já perdeu alguém sabe é o quanto dói, e como nunca passa. Diminui, deixa de estar sempre na memória, mas a dor continua lá, escondida, esperando uma lembrança para ser revivida. E quem já perdeu alguém também sabe que recomeçar, ou seguir em frente, é muito difícil. A vida passa a ter uma dinâmica diferente, e se adaptar à nova realidade não é nem de perto fácil. E é isso que Anna e Frankie tem que aprender em Vinte Garotos no Verão.

Desde sempre, Anna, Frankie e Matt são inseparáveis. Frankie e Matt são irmãos, e são irmãos que se amam e se respeitam. Melhores amigos desde pequenos e, ainda por cima, vizinhos, eles cresceram juntos. Os laços construídos entre eles desde a infância não seriam quebrados com facilidade. Eles sabiam o que fazia os outros felizes, eles compartilhavam todos os momentos de felicidade, medo e tristeza e planejavam seus futuros juntos. Anna é apaixonada por Matt. Mas, com medo de estragar a amizade que os três tem, ela prefere ficar quieta. Só que, no seu aniversário de quinze anos, Matt acaba tomando a iniciativa. E finalmente Anna tem Matt do jeito que ela sempre quis. Com medo do que Frankie vai sentir, e por serem tão unidos, Matt pede à Anna que eles guardem segredo por mais algumas semanas, até que ele e sua irmã façam a viagem que estavam programando, para que ele possa explicar para Frankie sem que ela se sinta magoada - ou ferida. Anna aceita, sem nem imaginar o que viria a seguir. 

Um dia, de forma abrupta, Frankie e Anna perdem Matt. Em um minuto, todos os seus sonhos pareciam que iriam se tornar realidade. No outro, tudo estava tão despedaçado quanto os vidros do carro de Matt depois do acidente. Para superar a dor, cada uma delas se refugia aonde pode. Anna acha consolo nas páginas de seu diário onde, sem precisar de fato falar com alguém, escreve tudo o que sente e tudo que não pode contar para sua melhor amiga. Anna se transforma em uma outra pessoa, se refugiando em tudo que o dinheiro pode comprar para tentar mascarar a sua dor. O pior de tudo é que todos ao redor delas também estão sofrendo. Os pais de Frankie perderam seu filho, e os pais de Anna sentem a dor de perder um filho também. Todos estão tendo que se recuperar daquele acidente cruel, mas não conseguem ver um futuro muito distante. 

Mas a história do livro na verdade começa quando, doze meses depois de perderem Matt, Anna e Frankie vão viajar juntas para Califórnia. Sentindo que precisam de um ponto para o recomeço, elas decidem seguir em frente com os planos de todos os anos. Assim, planejam uma viagem com muita diversão, surfistas e sol nas praias californianas. Mas as duas sabiam que, na verdade, a viagem serviria para curar de vez os corações das duas e para que elas aprendessem a seguir em frente sem Matt. Seria isso ou seus corações acabariam ainda mais destroçados ao viajarem para um lugar onde cada grão de areia as faria lembrar dele.

Assim, elas decidem que, nesse verão, vão conhecer vinte garotos. E seguem a viagem vivendo cada dia, sem planejar demais, sendo um pouco mais ousadas do que seriam normalmente, arriscando um pouco mais e vivendo um pouco mais. E, a cada nova aventura juntas, elas tentam aceitar que se sentir bem não é totalmente um crime. E que elas precisam mesmo superar. Tudo isso permeado pelas incertezas e inseguranças da vida de uma adolescente, assim como também uma boa dose de drama e sentimentos misturados numa fase da vida em que todos sabem não ser tão fácil de se encontrar - e encontrar seu lugar - no mundo.

Em uma narrativa tocante e ágil, experimentamos com as personagens tudo que elas viveram naqueles vinte dias de verão. E podemos ver de perto como os laços entre elas são reconstruídos, pouco a pouco. Podia ter sido um livro dramático e extremamente doloroso, por se tratar de uma situação tão delicada, mas a autora soube como balancear a dor das meninas com a necessidade de serem felizes de novo que elas tinham. Elas aprendem, juntas, que perdoar é preciso, e que deixar ir é imprescindível. E o final do livro faz com que a leitura inteira seja ainda mais leve e linda do que eu esperava quando li a primeira frase de Vinte Garotos no Verão.


 
Base feita por Adália Sá | Editado por Luara Cardoso | Não retire os créditos